Mário Resende - 35 pequenas sonatas para violino solo
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Mário Resende - 35 pequenas sonatas para violino solo
ANTI-DEMOS-CRACIA
ADC108JUL2023
Grafismo da capa: Carlos Paes
Edição limitada a 175 exemplares em CD-Digisleeve
Mário Resende apresenta as suas 35 pequenas sonatas para violino solo, cada uma com três andamentos.
Foram gravadas de uma vez e o que ficou, ficou para sempre.
Após a gravação, as partituras foram propositadamente inutilizadas para só existir o registo fonográfico e a memória do autor.
As sonatas 1 a 8 foram interpretadas no seu violino castanho claro, as 9 a17, no violino castanho escuro, as 18 a 25, no violino vermelho e, por último, a 26 à 35, no seu violino laranja.
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Contra o tempo, ainda a tempo
Se já vai sendo habitual encontrar antigos violinistas e violetistas clássicos nos domínios da música experimental ou improvisada, casos de Carlos “Zíngaro”, Maria da Rocha, Ernesto Rodrigues, Maria do Mar e José Valente), menos de esperar é que, em Portugal, encontremos um (e um apenas, tanto quanto sabemos) que teve um percurso na pop e no rock, marcando o seu nome na história destes géneros musicais. Trata-se de Mário Resende, cuja trajectória o levou de Essa Entente e Croix Sainte a Seres e Duplex Longa. Nestes últimos com especial evidência, dado o formato escolhido (violino solista, baixo acompanhante e electrónica ambiental). Aí ouvimos reminis¬cências clássicas misturadas com melodias que ficam no ouvido, com a rítmi¬ca do rock, com algum jazz e com várias das chamadas “músicas do mundo”. Na singularidade que por cá tiveram os Duplex Longa, antecipou-se mesmo o que viria a ser catalogado como pós-rock ou avant-pop.
Se bem que de formas pouco ortodoxas, por vezes cruzando notação con¬vencional com partituras gráficas, Mário Resende interrompe a sua posterior dedicação exclusiva ao ensino de música para ressurgir aos ouvidos públi¬cos com um novo disco, “35 Pequenas Sonatas para Violino Solo”, marcando um regresso à música erudita. E, no entanto, estão lá, nessas pequenas so¬natas, aspectos que nos lembram os grupos referidos, tão esquecidos hoje quanto o foi o seu nome. Sabemos bem por que motivo - o definhamento da memória que a cultura pop, no seu cruel imediatismo, tornou como regra. De sonatas, no exacto significado que se deu secularmente a esta fórmula, se trata, mas estas vêm com uma “awareness” que denuncia o caminho trans¬-idiomático e pluri-estilístico de Resende, aberto a tudo, ou quase tudo, o que está fora do guarda-chuva da música conservatorial. O seu regresso, no momento em que “Forças Ocultas” é reeditado e em que sai o álbum “Segunda Viagem”, com registos de ensaios e actuações ao vivo de Duplex Longa, só pode ser motivo para aclamação. Assim, é-nos restituído o que já aconteceu musicalmente nestas paragens, e foi deveras importante, mas também nos confronta com a noção de que aqueles músicos de ontem são músicos de hoje, necessariamente com outros projectos e modos de inter-venção. O passado é, nos seus desenvolvimentos evolutivos, o presente, inclusive quando não pareça a uma audição superficial. Poderá até ser que invente um futuro. E poderá até ser que, nos labirintos da pop, finalmente se altere a equivocada noção de Tempo que vamos tendo. Um Tempo que, não sendo linear, é uma sucessão de eventos, confundindo o que foi, é e será.
Rui Eduardo Paes
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